Estamos todos tristes com a derrota da nossa seleção. Tá bom, vá lá, nem todos. Após o jogo, alguém na minha vizinhança ficou soltando foguetes. Fonte segura me disse se tratar de um holandês, de um argentino, ou de um filho-da-p***.
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Com a derrota, começam as pessoas a discutir o que deu errado. Tudo bem, é válido. Mas boa parte dessa discussão é bobagem, como bem aponta Décio Lopes, pois a “sorte” representa um papel importante que normalmente é negligenciado nessas análises. E o efeito “sorte” nem é atenuado pela Lei dos Grandes Números.
Ontem tive uma discussão defendendo este ponto de vista, e hoje tive a surpresa agradável de encontrar esse post do Décio. Nem tudo está perdido no “comentarismo” esportivo.
No mais gostaria de compartilhar com os leitores (há alguém aí, ainda? Fred?) o texto que deixei na caixa de comentários do Décio.
É fato que a sorte também representa um papel importante no futebol. Então vejamos. Suponha uma seleção excelente, que vence 80% dos seus jogos contra outras boas seleções. Na fase final da copa ela deve vencer 4 jogos para ser campeã — oitavas-de-final, quartas-de-final, semi-final e final –, e pode-se supor que todos esses jogos sejam contra boas seleções. Vamos supor ainda que os resultados sejam independentes um dos outros (o resultado do jogo das semi não afeta o das finais, por exemplo).Dado que a seleção excelente chegou às fases finais da copa do mundo, qual a sua chance de ser campeã, nesse exemplo? É fácil ver que para ser campeã ela deve ganhar todos os jogos, então:P(ser campeã) = P(ganhar as 8as)*P(ganhar as 4as)*P(ganhar as semi)*P(ganhar as finais)= (0,8)*(0,8)*(0,8)*(0,8)= 0,4096Portanto, mesmo uma seleção excelente, que vença 80% das vezes partidas contra outras boas seleções, tem apenas 40,96% de ser campeã de uma copa do mundo.Acho que todos deveriam refletir sobre essa conta simples antes de ficar apontando culpados. A seleção do Dunga pode até não ser tão excelente. Concordo com a crítica de que volantes de mais foram levados à essa copa. Concordo também com a crítica de que geralmente Dunga não soube fazer as substituições certas no momento certo. Ainda assim, o fato de ter alcançado o título de quase tudo o que disputou lhe dá grandes credenciais. Vejamos os números: Dunga comandou o Brasil em 60 jogos, dos quais venceu 42, empatou 12 e perdeu 6. Se considerarmos o esquema de pontuação tradicional (vitória=3 pontos, empate=1 e derrota=0), são aproximadamente 87% de aproveitamento.Particularmente, gostei muito mais de ver esta seleção jogar do que a de 2006.Portanto, quero finalizar dizendo ao Dunga que ele pode seguir com a cabeça erguida e com a certeza de ter feito um bom trabalho.